A safra de cana-de-açúcar 2025/26 no Brasil caminha para ser um exemplo clássico de como a estratégia de produção pode se sobrepor aos desafios climáticos. Embora a colheita da matéria-prima tenha sido prejudicada, o país deve registrar o segundo maior volume de produção de açúcar da sua história.
Novos dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgados nesta terça-feira (4), indicam que a safra 2025/26 deve totalizar 666,4 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. O volume representa uma redução de 1,6% em comparação com o ciclo recorde anterior (2024/25).
A principal causa da retração são as condições climáticas adversas que dominaram a principal região produtora do país, o Sudeste, com destaque para São Paulo e o Triângulo Mineiro.
Seca e calor reduzem produtividade
Segundo a Conab, a queda na produção de cana é resultado direto das “restrições hídricas”, irregularidade das chuvas e excesso de calor registrados durante as fases de desenvolvimento das lavouras.
Esses fatores climáticos, que também incluíram focos de incêndio, impactaram diretamente a produtividade, que registrou uma queda de 3,8% em nível nacional. Em São Paulo, o maior estado produtor, a redução na colheita de cana foi ainda mais acentuada.
O paradoxo do açúcar
Apesar da colheita menor de cana, a produção do adoçante surpreende. Projeções de mercado indicam que a fabricação de açúcar deve atingir cerca de 44,5 milhões de toneladas, um leve aumento de 0,8% sobre a safra passada e o segundo maior volume já registrado na série histórica.
A explicação para esse aparente paradoxo está no chamado “mix de produção” das usinas. Com os preços do açúcar mais atrativos no mercado internacional em comparação com o etanol, as indústrias direcionaram um volume maior de cana para a fabricação do adoçante.
Nesta safra, o percentual da matéria-prima destinado à produção de açúcar subiu para 52,85%, contra 48,95% no ciclo anterior.
Etanol em queda
Como consequência direta dessa estratégia, a produção de etanol sofreu uma queda expressiva. Com menos cana disponível e a priorização do açúcar, a fabricação total do biocombustível (anidro e hidratado) deve registrar uma retração de aproximadamente 9,5% na safra 2025/26, segundo dados do setor.
Portanto, o cenário da safra atual é de menor volume de cana nos campos, mas de uma eficiência estratégica das usinas em focar no produto mais rentável, garantindo um resultado histórico para o açúcar brasileiro.


