O deputado federal André Janones prometeu, nas redes sociais, uma transmissão ao vivo marcada por serenidade, firmeza e transparência. Disse que “revelaria” fatos e falaria “abertamente sobre tudo” da acusação feita pela prefeita Leandra e acatada pela justiça. No entanto, o conteúdo publicado na noite desta terça-feira, 15, destoou do anúncio, sem defesa sobre Maria da Penha.
O vídeo não teve revelações concretas e foi recheado de ataques à imprensa, à extrema direita e a adversários políticos.
Sem defesa sobre Maria da Penha
Ao longo de quase 8 minutos, Janones negou as acusações de ter enviado imagens íntimas da ex-companheira, atual prefeita de Ituiutaba, mas não apresentou provas específicas relacionadas ao episódio. Em vez disso, mencionou certidões negativas de antecedentes criminais, que nem mesmo apresentou, e argumentos de cunho político-ideológico.
A postagem que antecedeu a live sinalizava equilíbrio. “Vou falar abertamente sobre tudo. Com serenidade, firmeza e transparência”, escreveu o deputado. Mas o tom adotado na transmissão contrastou: Janones atacou a imprensa, a quem chamou de “sensacionalista” e “sedenta por sangue”, além de se referir a opositores como “criminosos”, “bandidos” e “misóginos”.
Sem revelações
A promessa de revelações também não se cumpriu. O vídeo não trouxe informações novas sobre o caso que motivou a denúncia. Janones limitou-se a negar o envio de imagens e a afirmar que “não cometeu nenhum ato”. A promessa de apresentação de certidões negativas, que atestam ausência de condenações, mas não se referem diretamente ao caso em segredo de justiça, foi o ponto mais concreto de sua quase defesa.
Outro ponto que chamou atenção foram as contradições internas da fala. Janones declarou mais de uma vez que não pretendia expor a ex-companheira, mas forneceu detalhes que a tornaram facilmente identificável: falou sobre o término do relacionamento em 2016, mencionou a indicação dela para um cargo de assessoria, de prefeita, e descreveu seu perfil como “séria” e “discreta”.
Inconsistências
Apesar de afirmar que a mulher não mentiu, sugeriu que alguém a induziu a acreditar que ele era o autor do envio das imagens, ainda em dezembro. Não explicou, porém, argumentos que o afastam do crime nem quais “elementos” deixaram de existir.
As inconsistências se estendem à linha do tempo apresentada. Janones diz que a relação com a prefeita terminou há nove anos, mas que mantinham amizade e respeito mútuo. Também afirma que o caso já foi esclarecido, embora reafirme sua inocência, pois há um processo em andamento.
No fim da transmissão, declarou que não voltaria ao tema. “É a última vez que falo sobre isso.” No entanto, sugeriu desdobramentos judiciais ao dizer que “quando eu for absolvido, quando os culpados forem responsabilizados…”.
A tentativa de se defender acabou diluída por um discurso combativo. Em vez de separar a explicação pessoal do embate político, Janones misturou os dois registros, encerrando a live com um bordão de efeito: “Amarra as calças, porque anistia é o caralho”.
Ao optar pelo discurso pouco objetivo, Janones criou uma sequência de contradições que fragilizam sua narrativa: o tom não condiz com o prometido; as “revelações” anunciadas não se materializaram; e a ideia de “proteger” a ex-companheira acabou resultando em sua exposição.
Ouçam este jornalista: Brasília se movimenta para tratar o novo caso Janones a partir da próxima terça-feira, 22 de abril. A volta do feriado promete e o deputado parece não ter cartas na manga para se salvar.