A megaoperação policial no Rio de Janeiro, que resultou em dezenas de prisões e confrontos nas últimas semanas, já começa a deixar rastros políticos pelo país. O governador de Minas, Romeu Zema, chegou a parabenizar publicamente o colega fluminense Cláudio Castro, afirmando que a ação deve ser considerada “a mais bem-sucedida do Brasil”. O momento desse elogio não é por acaso.
De acordo com pesquisa da Quaest, divulgada pelo G1, 53% dos moradores do Rio de Janeiro aprovam a gestão de Cláudio Castro. Essa operação, que ganhou grande visibilidade nacional, pode render dividendos eleitorais para governadores do Partido Liberal (PL) — todos eles aliados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Mas é aí que entra a leitura política: operações como essa, em um ano pré-eleitoral, sempre têm dois lados. De um lado, o resultado imediato, com prisões e impacto midiático. De outro, a tentativa de transformar segurança pública em palanque político.
Quando Zema elogia Castro, ele acena para o mesmo eleitorado que defende endurecimento contra o crime — um público com o qual o Partido dos Trabalhadores historicamente tem dificuldade de dialogar.

Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Trazendo essa discussão pra Minas Gerais, a situação se apresenta quase de forma oposta. Enquanto o Rio mostra “poder de fogo”, aqui, em Uberlândia, a Polícia Civil e a Polícia Militar enfrentaram restrições de combustível — uma vereadora e delegada protocolou solicitação de informações sobre o caso.
Agora, é importante dizer algo: muita gente comemorou a morte de criminosos nessa operação. Eu não acho que essas pessoas sejam “fascistas”, como alguns tentam rotular. São cidadãos cansados de tanta injustiça, de ver o crime sendo, muitas vezes, omitido pelo Estado. É um sentimento de exaustão, de quem já perdeu a esperança de que o sistema vá funcionar um dia.
Mas o fato é que operações isoladas não mudam a realidade. Elas mostram presença, mas não transformam o sistema. O crime organizado cresce onde o Estado não entra — nas favelas, nos bairros esquecidos. O tráfico se impõe porque oferece o que o poder público não entrega: dinheiro, comida e até uma espécie de ordem. Quando faltam infraestrutura, educação e saúde, o crime ocupa o espaço que o Estado deixa vazio, Inclusive o crime está entranhado no estado, porém é assunto para outro conteúdo.
Perguntas
Será que o foco só em operações espetaculares não acaba beneficiando quem já quer transformar segurança em bandeira eleitoral? Em Minas, esse mesmo debate vai ter peso — ou permanecerá restrito à retórica?
Enquanto o debate político continuar focado apenas em operações espetaculares, sem enfrentar as causas estruturais – a desigualdade, o abandono, a corrupção –, o sistema vai permanecer. Por muitos e muitos anos. E o discurso de “lei e ordem” vai seguir sendo apenas mais uma bandeira de campanha.
Conteúdo faz parte da Coluna Poder, assinada por Adelino Júnior, que acompanha os bastidores da política no Triângulo Mineiro.
Envie informações e sugestões à coluna pelo WhatsApp: (34) 99791-0994.


