A hegemonia histórica do catolicismo no Brasil caminha para o fim nesta década. Embora o país ainda reúna o maior número de fiéis do Vaticano no mundo, o avanço do evangelicalismo, especialmente nos últimos 35 anos, redesenha o mapa religioso nacional.
Dados do IBGE mostram que, em 1940, 95% da população se declarava católica. No Censo de 2010, o índice já havia caído para 64,6%. Mantida a tendência de queda, o catolicismo deve perder o posto de religião majoritária para os evangélicos nos próximos anos.
Projeção
Projeção feita pelo demógrafo José Eustáquio Diniz Alves indica que, até 2032, a proporção de católicos e evangélicos deverá se inverter. Segundo ele, os primeiros devem recuar para 38,6% da população, enquanto os evangélicos devem atingir 39,8%.
Pesquisador aposentado da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE, ele pondera que a virada pode sofrer alterações. “Esse gráfico é uma projeção com os dados que temos hoje”, afirma. O IBGE ainda processa os números mais recentes, coletados no Censo Demográfico de 2022, e não os divulgou.
Estrutura da igreja católica
Apesar da perda de fiéis, a estrutura da Igreja Católica no Brasil tem se fortalecido em outros aspectos. Nos últimos 25 anos, o número de padres cresceu de 16,8 mil para 22,5 mil. O movimento também é observado no número de paróquias, que avançou 43,6% no período, passando de 12,6 mil para cerca de 18,1 mil.
A trajetória das mulheres religiosas, no entanto, é distinta. Em 1969, o país registrava quase 42 mil freiras, monjas e professas. Desde então, o número caiu de forma contínua, chegando a 23,1 mil, uma redução de quase 45%.
Entre os fatores que explicam a perda de espaço do catolicismo, Alves aponta a dificuldade da Igreja em acompanhar as transformações urbanas. “A Igreja Católica não consegue acompanhar o ritmo de crescimento da cidade”, diz. Ele também cita a “maior afinidade do discurso evangélico com o capitalismo” como um elemento que impulsiona o avanço das denominações protestantes.
O pesquisador projeta ainda que, após a inversão, as duas religiões tendam a atingir um ponto de estabilidade, com o catolicismo em seu piso histórico e o evangelicalismo no teto de crescimento.