MG: Patos de Minas está entre as dez cidades menos favoráveis para mulheres

Violência, desigualdade salarial e falhas na oferta de serviços de saúde explicam posição no ranking

Redação Geral
Foto: Patos Drone

Um estudo divulgado nesta semana colocou Patos de Minas (a 415 km de Belo Horizonte) entre as dez cidades de Minas Gerais com pior ambiente para mulheres. O levantamento, elaborado a partir de dados de órgãos oficiais como Ministério da Saúde, Secretaria de Justiça e IBGE, avaliou condições de segurança, mercado de trabalho, acesso à saúde, participação política e educação.

Violência doméstica

Apesar do crescimento econômico impulsionado pelo agronegócio e por médias indústrias, o município registrou avanço nos casos de agressão e feminicídio nos últimos quatro anos. Ao todo, a taxa de denúncias de violência doméstica subiu 18% no período, ficando acima da média estadual. Para especialistas, o dado sugere aumento da subnotificação transformado em registros formais, mas revela também a persistência da violência de gênero.

No mercado de trabalho, as patenses recebem, em média, 23% menos que os homens na mesma função, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais). A participação feminina em cargos de chefia é de apenas 14%, índice que permanece praticamente estagnado desde 2021. “O descompasso salarial e a barreira ao topo da hierarquia corporativa reforçam um ciclo de desigualdade que se retroalimenta”, afirma a economista Mariana Figueiredo, que coordenou a pesquisa.

Outro gargalo identificado é a oferta de serviços de saúde. A cidade dispõe de um ginecologista para cada 15,7 mil habitantes, proporção considerada insuficiente pelo Conselho Federal de Medicina. No pré‑natal, 27% das gestantes iniciam o acompanhamento tardiamente ou realizam menos de seis consultas, o que eleva o risco de complicações. Moradoras da zona rural relatam percorrer até 50 km para obter atendimento especializado.

Representatividade política

A participação política feminina também é limitada: na Câmara Municipal, apenas uma das 17 cadeiras é ocupada por mulher. Já no Executivo, nenhuma secretaria estratégica é chefiada por elas. “Sem mulheres nas instâncias de decisão, políticas públicas acabam carecendo da perspectiva de gênero”, diz a socióloga Patrícia Assis, da Universidade Federal de Uberlândia.

Recomendações

O relatório sugere a criação de uma Casa da Mulher – centro de acolhimento integrado – e a ampliação do efetivo da Patrulha de Prevenção à Violência Doméstica. Também propõe incentivos fiscais para empresas que adotem programa de equidade salarial, expansão da rede de creches em período integral e campanhas permanentes de conscientização sobre direitos reprodutivos.

Procurada, a prefeitura informou que “tem trabalhado para fortalecer políticas de proteção, com a construção de um centro de referência da mulher previsto para 2026” e que estuda parcerias para aumentar o número de profissionais de saúde. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico disse que irá lançar, até dezembro, edital de capacitação voltado exclusivamente a empreendedoras locais.

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