Impulsionada pela demanda interna aquecida, a indústria mineira acumulou crescimento de 4,4% nos últimos 12 meses. Isso ocorreu segundo dados da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais). O desempenho positivo é atribuído à combinação de política fiscal expansionista, melhora no mercado de trabalho e aumento dos investimentos por parte do empresariado.
Baixa em dezembro e janeiro
De acordo com a economista da Fiemg, Daniela Muniz, os meses de dezembro e janeiro costumam ser de baixa atividade para o setor. O setor concentra seu pico de vendas até outubro. “Com a retomada já no segundo mês do ano e todos os índices no campo positivo, mesmo em um cenário complexo, o setor demonstra fôlego e resgata o otimismo para os próximos meses”, afirma.
Em fevereiro, o número de horas trabalhadas na produção subiu 2,4%, reflexo do aumento da empregabilidade e do retorno de funcionários após o período de férias. No mesmo mês, a indústria de transformação gerou 110,8 mil postos formais em Minas Gerais, de acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados). Isso surpreendeu o mercado pelo ritmo das contratações.
O emprego teve alta de 0,3% ante janeiro, acompanhando o avanço na produção. A massa salarial cresceu 3,5% no período, impulsionada por reajustes e pagamentos de participação nos lucros.
Cenário desafiador
Apesar dos sinais positivos, a Fiemg aponta que o cenário ainda impõe desafios. A inflação segue pressionada, sobretudo no setor de alimentos. Além disso, os sucessivos aumentos da taxa básica de juros, promovidos pelo Banco Central, tendem a frear o consumo das famílias. Também podem adiar investimentos empresariais. “Os indicadores mais recentes de confiança do empresário e do consumidor reforçam essa perspectiva de cautela”, diz Muniz.
Ainda assim, medidas de estímulo anunciadas pelo governo federal e a recente valorização cambial podem atenuar o ritmo de desaceleração. A colheita de safras mais robustas, com impacto na deflação de alimentos, também deve aliviar a pressão sobre os preços.
No cenário internacional, a elevação de tarifas dos EUA sobre produtos chineses — que passaram a 145% por decisão do presidente Donald Trump — deve alterar o fluxo do comércio global. Para o professor de gestão do UniBH, Fernando Sette Jr., a China tende a redirecionar parte de sua produção para outros mercados. Entre eles, o Brasil.
Ele avalia que essa movimentação pode afetar a indústria nacional. “Uma maior oferta de produtos chineses no país ampliará a competição com a indústria local. Isso resultará em uma possível queda de preços para manutenção da competitividade”, diz.
Por outro lado, o Brasil pode se beneficiar como exportador. “É uma oportunidade de diversificar as exportações, o que favorece a indústria mineira. Também pode acelerar um acordo de cooperação entre o Brasil e a União Europeia”, afirma Sette Jr.