O setor de serviços em Minas Gerais registrou queda de 0,9% em março na comparação com o mesmo mês de 2024, interrompendo uma sequência de sete meses de resultados positivos. Os dados são da Pesquisa Mensal de Serviços, divulgada nesta quarta-feira (15) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Comparação
Na comparação com fevereiro, o volume de serviços se manteve estável no estado. No acumulado de 12 meses, Minas apresentou retração de 1,5%, enquanto o Brasil teve alta de 3%.
O desempenho coloca o estado entre as cinco unidades da federação com resultados negativos no período, junto com Rio Grande do Sul (-9,6%), Roraima (-6,4%), Pernambuco (-4,7%) e Piauí (-1,6%).
Segundo o IBGE, a queda foi influenciada principalmente pelos segmentos de outros serviços (-6,7%), transportes, serviços auxiliares e correio (-2,9%) e serviços profissionais, administrativos e complementares (-0,5%).
A única atividade com crescimento expressivo foi a de serviços prestados às famílias, que avançou 5,4% na comparação anual. O segmento inclui bares, restaurantes, salões de beleza, entre outros.
De acordo com Daniel Dutra, analista do IBGE responsável pela pesquisa no estado, esse crescimento foi determinante para que o resultado de março não fosse pior. “A maioria dos indicadores teve variação negativa, mas o bom desempenho dos serviços às famílias, que têm peso importante na composição, evitou uma queda mais acentuada”, afirma.
Cenário preocupa
Mesmo com o avanço pontual, o cenário geral ainda preocupa. Dutra pondera que oscilações mensais são comuns, mas as quedas no comparativo anual podem sinalizar perda de fôlego do setor. “Ainda é cedo para falar em tendência, mas o sinal de alerta está aceso”, diz.
Com exceção dos serviços às famílias e dos serviços de informação e comunicação (alta de 1,5%), os demais segmentos apresentaram retração no período analisado.
O setor de turismo, medido separadamente, teve alta de 0,9% em Minas na comparação com março do ano passado. No país, o crescimento foi maior: 5,8%.
Para o economista Fernando Sette Jr., professor do UniBH, o resultado de Minas reflete o impacto da política monetária. “Com juros altos e crédito caro, as famílias reduzem gastos. Setores como transporte e consultorias são os primeiros a sentir”, afirma.
Sette Jr. diz que o setor vive um “equilíbrio instável”, com algumas áreas ainda em crescimento e outras já dando sinais de desaceleração. “Se os juros seguirem altos por mais tempo, o desgaste tende a se espalhar”, alerta.
Segundo ele, o crescimento dos serviços às famílias pode ter relação com o comportamento pós-pandemia e com a expansão do turismo regional, que sustenta parte da economia local.
A perspectiva para os próximos meses dependerá do ritmo de queda dos juros e da resistência do consumo. “Famílias e empresas têm um limite de fôlego. O papel do Banco Central será decisivo”, conclui.