Na ultima semana, em dia 16 de outubro, uma sexta feira, Ituiutaba e várias cidades da região sofreram um blackout, devido à queda de oito torres de transmissão, que são responsáveis pelo fornecimento de toda a energia que chega a estes municípios. O retorno da energia se deu apenas na madrugada de domingo. Estes acontecimentos me fizeram refletir sobre as questões emocionais e de comportamento que provavelmente ocorreram com muitas pessoas neste período.
Gostaria então de compartilhar com vocês as minhas reflexões sobre esses dias, pedindo uma licença poética para comparar esse episodio com um adendo do livro “Ensaio sobre a cegueira” de José Saramago, que conta a historia de pessoas que subitamente perderam a visão.
Algumas pessoas poderão me achar exagerada, porem sei que muitos se sentiram em completo desamparo quando se depararam com a falta de energia, que afetou o funcionamento de seus aparelhos eletro eletrônicos, com suas redes sociais e de informações. Assim como no livro, quando as pessoas perderam a visão e se perceberam reduzidas à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas, se depararam com suas impotências e fraquezas. No livro, José Saramago nos dá uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio. Na realidade, em nossa cidade, nos deparamos com imensas filas nos postos de combustíveis, supermercados lotados, pessoas ansiosas e com medo. Muitas se encontraram em completa escuridão, tanto real como emocional.
Diante esses fatos fica meu questionamento: – será que nossa existência esta tão amparada na modernidade, na magia de possuir todo o planeta em um clique do dedo, que quando nos deparamos com a falta de energia não conseguimos mais conversar, conviver ou mesmo existir? Como podemos viver sem os objetos que o mundo moderno nos proporciona, como reagir ao nos encontrarmos em situação de completa escuridão?
A escuridão gera o medo e nos faz encontrar o nosso próprio vazio existencial, que normalmente está encoberto pelas luzes dos objetos dos quais já criamos dependência. Desse modo, caminhamos cegos pela vida afora, sem domínio de nós mesmos, sem procurar nosso autoconhecimento, sem saber controlar o nosso próprio destino. Nosso mundo então vira o nosso próprio cárcere.