Cruzeiros suspensos, voos cancelados e pacotes de viagens postergados. além de atrapalhar as férias dos brasileiros, o avanço da variante ômicron do coronavírus coloca novamente em xeque a recuperação do setor de turismo no país.
Depois de perderem 36% da receita em 2020, segundo a Confederação Nacional do Comércio de bens, serviços e turismo (cnc), as empresas de turismo ganharam fôlego extra no ano passado com o avanço da vacinação. em 2021, o faturamento chegou a crescer 22,5% com a demanda forte para o início deste ano.
Mas a nova variante traz de volta a sensação de incerteza, e deve desacelerar o ímpeto do setor no primeiro trimestre deste ano.
Desempenho em 2021, estimativas para 2022
Dados da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav) mostram que o primeiro impacto do coronavírus causou uma queda de 58% dos ganhos das agências entre 2019 e 2020 — de R$ 33,9 bilhões para R$ 14 bilhões.
O faturamento anual das agências em 2021 só será divulgado pela Abav em março. Mas, de acordo com Roberto Haro Nedelciu, presidente da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa), em novembro do ano passado 20% das operadoras de turismo estavam vendendo igual ou melhor que antes da pandemia.
Em dezembro, porém, a explosão de casos de Covid-19 fez com que parte dos clientes adiasse suas viagens ou optasse por destinos dentro do país.Ainda assim, as expectativas para 2022 como um todo são positivas.
Uma sondagem feita pela Abav com associados mostrou que um terço das empresas esperam faturamento 60% maior neste ano que no anterior. Outros 27% esperam alta de 50%.
Mas o temor é que a ômicron tenha entrado em cena para mudar os planos e repetir o baque do início da pandemia.
Medidas de contenção
Para prevenir mais cancelamentos, as agências têm feito um esforço de procurar hospedagens e passeios que minimizem os riscos de contágio. Mas a Abav já reconhece que as novas contratações de viagens, para o meio de ano, estão em compasso de espera.
Segundo a presidente da entidade, os contratantes ainda procuram entender melhor os riscos e efeitos da ômicron. Ela conta que, até o momento, há poucos adiamentos e apenas os mais cautelosos já cancelaram viagens.
De acordo a CVC, destinos nacionais e, principalmente, regionais, concentram quase toda a preferência dos brasileiros por viagens em janeiro. Por este motivo, a empresa realiza desde dezembro operações temporárias de voos fretados ao nordeste, que é uma das regiões mais procuradas do Brasil no verão.
O turismo internacional, por outro lado, “está em recuperação mais lenta, devido a uma conjunção de fatores: pandemia, alta do dólar e inverno no exterior”, informou a CVC, em nota.
Economia em crise, empregos na linha
O levantamento da CNC mostra que o turismo avançou 4,2% em volume de receita em novembro do ano passado, mas continua 16,2% abaixo do total registrado no período pré-pandemia.
Segundo Fabio Bentes, economista sênior da CNC, o setor de turismo deve apresentar resultados inferiores este ano não só pela variante ômicron, mas pela crise econômica do país, que afeta o poder de compra do brasileiro.
Cenário global
Globalmente, a perspectiva é de que o turismo internacional recupere os níveis pré-pandemia antes de 2024, segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT).
Segundo a agência das Nações Unidas sediada em Madri, o número de desembarques internacionais aumentou 4% no mundo no ano passado em relação a 2020, mas continuou sendo 72% inferior ao de 2019, antes do início da pandemia da Covid-19. Em 2022, a agência prevê números impactados pela variante ômicron.
As chegadas de turistas internacionais devem subir de “30% a 78%” em comparação com 2021, mas ainda seriam inferiores aos números de 2019. Segundo as estimativas de diversos especialistas, a volta ao patamar pré-pandêmico só deverá acontecer em “2024 ou depois”.