A morte brutal de uma estudante de 14 anos dentro de uma escola em Uberaba, no início de maio, foi resultado de um ataque premeditado e articulado por dois adolescentes.
A conclusão foi apresentada nesta terça-feira (20) pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), que conduziram a apuração do caso.
O crime aconteceu no Colégio Livre Aprender, no Bairro Universitário. A vítima foi esfaqueada durante a aula por um colega da mesma idade.
Imagens de câmeras de segurança, depoimentos e análises de objetos pessoais confirmaram que o agressor entrou armado na escola no dia 8 de maio com a intenção de cometer o homicídio.
Após o ataque, o adolescente fugiu com a ajuda de outro estudante, também de 14 anos, que teria participado do planejamento. Os dois estudavam na mesma sala da vítima e sentavam lado a lado.
“Logo após o crime, os dois deixaram a sala juntos, sem avisar ninguém. Mais tarde, o cúmplice alegou que havia ido procurar o colega, mas as investigações mostraram que ele estava envolvido diretamente na tentativa de fuga. A ligação entre eles é clara”, afirmou o delegado Cyro Outeiro.
Motivação: inveja e sofrimento emocional
Durante o interrogatório, o adolescente autor do crime confessou ter cometido o ato por inveja. Ele relatou sentir incômodo com o comportamento alegre da vítima e disse que ela representava tudo o que ele não conseguia sentir.
Um policial militar que participou da apreensão confirmou o relato: “Ele disse que fez isso porque tinha inveja do fato de ela simbolizar a alegria que ele não tinha”.
Segundo o Ministério Público, não há indícios de bullying, misoginia, seitas, redes sociais ou grupos extremistas envolvidos. A promotoria ressaltou que o crime foi isolado e motivado por conflitos internos do próprio autor.
Bilhete e caderno com escritas foram analisados
Um dos elementos que chamou atenção da investigação foi um bilhete entregue pelo agressor à vítima pouco antes do ataque.
O papel, segundo os promotores, fazia referência a uma morte por estrangulamento e foi interpretado como um aviso prévio do que estava prestes a acontecer. “Era como uma sentença escrita à mão”, disse o promotor André Tuma.
Além disso, a equipe de investigação analisou cadernos usados pelo adolescente. A promotora Fernanda Fiorati explicou que os textos encontrados eram, em grande parte, poesias e reflexões pessoais, principalmente escritas durante aulas de Filosofia. Alguns símbolos estavam presentes, mas nada que indicasse envolvimento com ideologias radicais.
Decisão deve sair até junho
Ambos os adolescentes seguem internados provisoriamente em Uberaba. A expectativa é de que a sentença judicial seja definida até o mês de junho. Caso seja aplicada a medida de internação, que é a punição mais severa prevista pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o tempo máximo de reclusão será de três anos.
“O que temos é uma medida socioeducativa, que não visa punir da mesma forma que no sistema penal adulto. Pode não agradar a todos, mas é o que está previsto em lei”, reforçou o promotor Diego Aguilar.
As autoridades encerraram a coletiva reforçando que todas as linhas investigativas foram verificadas e que não há riscos de novos ataques ou outros envolvidos no crime.