Facção comanda unidades do Triângulo Mineiro, do Alto Paranaíba e do Sul do Estado.
Quatro anos após iniciar sua campanha de expansão pelo Triângulo Mineiro, a organização criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) domina praticamente todas as unidades prisionais da região e já tem presença no Alto Paranaíba e no Sul de Minas. A facção responde por até 20% dos detentos de oito presídios nessas localidades e acumula privilégios no sistema carcerário. Eles têm pavilhões exclusivos, com menos detentos por cela, além de visitas com livre circulação. A facção é apontada ainda como mandante do assassinato de três agentes penitenciários em menos de dois anos.
O poder das facções dentro dos presídios de Minas é o tema da segunda reportagem da série “Presos no Sistema”, que mostra a realidade do encarceramento no Estado. De acordo com denúncia apresentada ao Ministério Público de Minas (MPMG) a que O TEMPO teve acesso, o PCC é dominante nas unidades prisionais de Uberaba e Uberlândia, no Triângulo; Patrocínio e Patos de Minas, no Alto Paranaíba; e Três Corações, Itajubá e São Lourenço, no Sul de Minas. A expansão em Minas coincide com o crescimento da organização em todo o Brasil nos últimos anos. Conforme reportagem publicada pelo jornal “Folha de S.Paulo”, o número de filiados ao PCC saltou de 10 mil, em 2014, para 21,5 mil neste ano. Enquanto há três anos 23% dos membros da facção estavam fora de São Paulo, agora são 64%.
A porta de entrada para o PCC em Minas foi Uberaba. A primeira investigação que mostrou a presença significativa da quadrilha, em 2014, ficou a cargo do Ministério Público. Na ocasião, 41 integrantes foram identificados, agindo na região desde 2013. Eles atuavam de dentro da Penitenciária Professor Aluizio Ignácio de Oliveira. Essa é até hoje o presídio de maior influência e regalias do PCC. Dos cinco pavilhões da unidade, um é exclusivo para filiados. Nele, há no máximo três presos por cela, enquanto nos demais pavilhões são mais de dez.
Nos fins de semana de visita, ninguém fica no pátio, como preveem as normas de segurança. Mais de 2.000 pessoas, entre presos e visitantes, têm livre circulação entre as galerias e celas – é a chamada “operação cadeados abertos”. A visita social se transforma em visita íntima.
Segundo um agente penitenciário, que pediu anonimato, as regalias surgem de um acordo com a direção da unidade. “Já houve situação em que um preso se recusou a fazer a revista e disse que já havia acordado com a diretoria. Mas essa não é uma situação fácil de enfrentar. Um diretor que resolva encarar o PCC por sua conta corre risco enorme de ver estourar uma rebelião como a de Manaus. Para enfrentá-lo, não basta uma decisão da diretoria, mas sim o suporte de todo o Estado”, frisou.
O interesse de expandir o domínio da facção por Minas tem a ver com a localização do Estado. O Triângulo é rota de transporte da droga vinda de Paraguai, Peru e Bolívia. Além disso, Minas conta com uma malha rodoviária importante para a distribuição da droga para várias regiões do país.
DENÚNCIAS
Órgãos de controle sabem do crescimento
As denúncias de atuação do PCC nas unidades prisionais de Minas e das regalias de membros da quadrilha não são assuntos desconhecidos do Ministério Público e da Corregedoria da Secretaria de Administração Prisional. Segundo o Sindicato dos Agentes de Segurança Penitenciária (Sindasp-MG), várias queixas já foram apresentadas aos órgãos de controle. A última, que tratava inclusive do risco de rebeliões, foi feita em 16 de outubro do ano passado.
O promotor João Vicente Davina, responsável pela situação no Triângulo, recusou-se a dar entrevista, mas informou que “toda denúncia é averiguada”.
Já a Secretaria de Administração Prisional (Seap) se manifestou por meio de nota. A pasta frisou que executa as atividades de administração prisional ancorada nas vertentes administrativa, operacional, jurídica e de inteligência. “No que tange às facções criminosas conhecidas em todo o país, a monitoração se dá de forma constante, por meio do serviço de inteligência da Seap e da integração com as forças de segurança”, diz o texto.
Via: O Tempo