- ANÚNCIO -

Um dos filmes mais aguardados, “A Bela e a Fera” estreia hoje (16)

Adelino Júnior

- CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE -


Versão animada da Disney para conto de fadas, com Emma Watson e Luke Evans nos papéis principais, estreia nesta quinta-feira (16).

Conto de fadas escrito pela francesa Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve (1695-1755) no século 18, “A Bela e a Fera” ganhou novo fôlego ao ter sua versão animada lançada pela Disney em 1991, quando se tornou a primeira animação a concorrer ao Oscar de melhor filme. Agora, com a ajuda da tecnologia, desenhos e atores reais contracenam em uma produção que estreia nesta quinta-feira (16), com direção do norte-americano Bill Condon.
Na trama, Emma Watson finalmente consegue se livrar da sabichona Hermione, da saga Harry Potter, ao encarnar a mocinha Bela. Moradora de uma pequena cidade francesa, a jovem sonha em largar a vida provinciana. Além de leitora voraz, ela ocupa os dias se esquivando das investidas de Gaston (Luke Evans), homem mais popular do vilarejo, que tem verdadeira obsessão em se casar com Bela.
Quem conhece a história sabe que um incidente muda tudo. Pai de Bela, Maurice (Kevin Kline) vai parar por acidente no castelo da Fera (Dan Stevens). E só é libertado quando Bela vai buscá-lo e fica encarcerada em seu lugar. Daí, surge uma bonita relação entre a mocinha e o monstro, que guarda um triste segredo.
Todo o filme é recheado de cenas musicais, sobretudo na primeira metade, guardando a segunda parte para as cenas mais dramáticas – mas sem dispensar as canções. Emma vai bem tanto nos números musicais quanto nas cenas mais densas. Já Evans mostra competência na mudança de postura de Gaston, que passa de um mero homem arrogante a um ser malvado de verdade.
Destaque à parte são os funcionários nada convencionais do castelo, que continuam encantando o público: o candelabro, o relógio, o bule de chá e a xícara. Todos falantes e responsáveis por boa parte dos efeitos especiais do longa.
Reações. Cinemas da Rússia e dos Estados Unidos querem banir a exibição do filme pela presença de um personagem gay, LeFou (Josh Gad), apaixonado por Gaston (Luke Evans) no filme.
O diretor do longa, Bill Condon, anunciou recentemente que este é o primeiro personagem assumidamente homossexual da Disney, o que causou revolta em parlamentares russos e em uma exibidora norte-americana. O argumento é que a exibição provocaria uma propaganda homossexual nas crianças.
No Brasil, a repercussão do personagem também gerou debate. De acordo com Guilhermina Cunha Ayres, vice-presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), o preconceito está na mente dos adultos. “A criança não vê sexo, não vê o mal, mesmo o que é feio só é feio porque os adultos dizem que é”. E completa: “A criança não vê as pessoas por cor. Ela só se torna preconceituosa por causa da sociedade”.
Para Leila Tardivo, psicóloga e professora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, um filme não influencia a opção sexual de ninguém. Não há estudos que comprovem isso. Cada um é o que é, independentemente de outros fatores.
Emma Watson. O comentário entre os críticos é o mesmo: depois de passar anos interpretando a si mesma como a bruxinha Hermione Granger, de “Harry Potter”, e experimentar papéis medianos, Emma Watson finalmente convence ao encarnar a mocinha Bela. Apesar de ser leitora voraz – cursou literatura na vida real –, assim como Bela, Emma não canta como a personagem e confessou ter ficado apavorada nas aulas.
Segundo ela, foi essa preparação que a impediu de aceitar o convite para “La La Land”, filme que deu o Oscar de melhor atriz deste ano a Emma Stone.

CRÍTICA

Musical à moda antiga falha nos efeitos especiais
Como estratégia de negócio, um remake com atores de “A Bela e a Fera” – animação da Disney de 1991 – pode parecer uma operação sem riscos. Afinal, na linguagem do marketing, trata-se da repaginação de um produto de sucesso, com forte apelo junto ao consumidor.
Mas, em termos artísticos, as coisas não são tão simples. Havia uma série de desafios no projeto de transformar a animação – que, com seu quarto de século, já pode ser chamada de clássica- em filme de live action, com atores.
O primeiro era a comparação com o original. Não poderia ser nem muito distante, nem mera cópia daquele produto querido pelo público.
O diretor Bill Condon saiu-se dessa encruzilhada com elegância. Por um lado, valendo-se da experiência como roteirista de “Chicago” (2002) e diretor de “Dreamgirls” (2006), ele entregou um musical à moda antiga.
Para fãs nostálgicos do gênero, há cenários grandiosos, figurinos suntuosos e a bela trilha sonora com números originais e novos, em parceria de Alan Menken e Tim Rice.
Por outro lado, Condon deu, nas entrelinhas, piscadelas a questões da contemporaneidade. Há insinuação de que um coadjuvante – Le Fou, ajudante do vilão Gaston – seja gay. E há reforço no empoderamento feminino da protagonista Bela (Emma Watson).
Na escala das convenções femininas das heroínas Disney, ela aparecia em posição intermediária, alguém que recusa um casamento por conveniência, mas se apaixona pelo príncipe encantado (ainda que na forma de ogro). Nem Branca de Neve, nem Moana.
Bela não ressurge como heroína feminista, mas avança nessa régua como uma mulher mais assertiva e autônoma.
Nesse sentido, a escalação de Watson é perfeita: o feminismo que marca sua persona pública é transferido em parte, como carga simbólica, ao personagem. Além do desafio artístico da adaptação, havia outro de ordem tecnológica.
Como preservar o universo fantástico – um homem que se torna fera, objetos inanimados que ganham vida- dentro da proposta de live action (portanto, de natureza mais realista que a animação)?
Condon acerta nos detalhes: o candelabro, o relógio, a xícara, o guarda-roupa que se portam como humanos são perfeitamente “críveis”.
Mas o diretor se atrapalha no essencial: sua Fera (Dan Steves) nunca deixa de parecer o resultado de efeitos especiais, não de um feitiço – o que rouba parte do encanto.
É mais difícil se envolver com a história de amor entre mulher e monstro se não esquecemos que ele é uma imagem criada no computador.
Setenta anos atrás, em sua versão de “A Bela e a Fera”, o francês Jean Cocteau apresentou um monstro não apenas mais poético, mas também mais convincente.
O que nos faz lembrar de que é o talento, não a tecnologia, que torna o cinema fantástico.
Via: O Tempo

Compartilhe este artigo
Deixe um comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sair da versão mobile