Hoje é comemorado mundialmente o Dia da Mulher. Mas você sabe o porquê o dia 08 de março carrega essa responsabilidade?
As histórias que remetem à criação do Dia Internacional da Mulher alimentam o imaginário de que a data teria surgido a partir de um incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York em 1911, quando cerca de 130 operárias morreram carbonizadas. Sem dúvida, o incidente ocorrido em 25 de março daquele ano marcou a trajetória das lutas feministas ao longo do século 20, mas os eventos que levaram à criação da data são bem anteriores a este acontecimento.
Desde o final do século 19, organizações femininas oriundas de movimentos operários protestavam em vários países da Europa e nos Estados Unidos. As jornadas de trabalho de aproximadamente 15 horas diárias e os salários medíocres introduzidos pela Revolução Industrial levaram as mulheres a promoverem greves para reivindicar melhores condições de trabalho e o fim do trabalho infantil, comum nas fábricas durante o período.
O primeiro Dia Nacional da Mulher foi celebrado em maio de 1908 nos Estados Unidos, quando cerca de 1.500 mulheres aderiram a uma manifestação em prol da igualdade econômica e política no país. Hoje em dia, mesmo cercado por celebrações, não podemos deixar de lado o verdadeiro motivo do dia 8 de março. De se abordar e questionar os mais diferentes temas relacionados ao ser mulher. E como não existe só uma forma de passar uma mensagem, o Regionalzão convidou nove mulheres araguarinas para nos contar “O que é ser mulher em 2022”.
“Desde cedo fui ensinada a correr atrás de meus sonhos. Quais eram? Faculdade, emprego, casa, casamento e filhos, nessa ordem. O tempo passa e os sonhos mudam: primeiro tive os filhos, depois arrumei meu emprego, comprei minha casa e não quis me casar. Um bom emprego dá essa liberdade a nós, mulheres: o direito de escolha. Escolhi viver da melhor forma possível, aproveitando o hoje: sou uma profissional realizada, uma filha dedicada, uma mãe orgulhosa e uma avó babona. Tenho poucos, porém ótimos amigos, que preenchem meus momentos de alegria. Me perguntaram como consigo conciliar tudo isso… Sinceramente, eu não sei, mas a terapia ajuda bastante! Acho que o grande segredo é acreditar no seu potencial e não se deixar abalar com opiniões alheias. Só você é capaz de mensurar sua força! Por isso, lute sempre para realizar seus desejos! Sim, um dia eles se tornam realidade!”, declarou a Sargento Adriana, da 2° Companhia de Bombeiros Militar – Araguari.
“No dia 8 de março é celebrado o Dia Internacional da Mulher. Hoje, o 8 de março se apresenta como um dia de meditação sobre as conquistas e os desafios das mulheres e, ainda, de recordação da constante e necessária luta por igualdade de gênero. Ser mulher na sociedade de hoje é acordar todo dia e pensar em como passar por ele sem sofrer as consequências da violência e discriminações que diariamente muitas mulheres sofrem. Dentro da atividade policial, encontramos muitos outros desafios, tendo em vista ser ainda uma atividade predominantemente masculina. Existe um longo caminho a ser percorrido e a função policial traz consigo grandes desafios. Além de conviver com a criminalidade e com o risco, ainda temos que encarar desafios como o machismo e, como outras mulheres, temos que provar que somos capazes, que fazemos nosso trabalho com eficiência e qualidade. Aos poucos, vamos vencendo as barreiras do preconceito e conquistando nosso espaço, pois o lugar da mulher é onde ela quiser”. Relatou Amanda Cristina de Oliveira, Escrivã de Polícia.
“Ser mulher com seus quarenta e poucos anos, em uma cidade mediana do interior de Minas Gerais e no Brasil é difícil. Principalmente quando falamos em mercado de trabalho, a recolocação da mulher de meia idade por mais que ela esteja no auge do seu sucesso, a mulher no nosso país ainda tem que escalar muito a montanha do preciosismo masculino para que sejamos aceitas e respeitadas como profissional e mulher. Precisamos percorrer um caminho muito longo ainda para conquistar nosso espaço em meio a um mundo dominado pelo homem. Somos apenas joguete, a mulher continua sendo vista apenas como uma carne no mercado. O meu ponto de vista é de uma mulher de seus quarenta e poucos anos, e como mulher em uma cidade de tamanho mediano no Brasil, e posso garantir que não é só pra mim, mas para todas a mulheres seja de vinte e poucos até 100 anos, precisamos no nosso dia a dia escalar a montanha do preciosismo masculino”. Refletiu Ana Carolina de Lima Oliveira, Graduada em Direito.
“O meu nome é Daniella Rodrigues Marques, 45 anos de idade, casada e tenho 2 filhos: Maria Luísa – 23 anos e Eduardo – 11 anos. Situando-me como mulher em 2022, vejo que tive e tenho que enfrentar desafios em minha caminhada. Com o diagnóstico de Autismo do meu filho, fui obrigada a renunciar a minha carreira profissional para dedicar aos inúmeros compromissos assumidos em relação ao dia a dia do Dudu. Ele é uma criança com uma inteligência acima da média, ocasionando com isso, intervenções diárias. Aprendo com ele todos os dias. Ensinou-me a ser uma mulher mais forte, corajosa e pronta para enfrentar quaisquer obstáculos. Vivendo um dia de cada vez. Ser mãe de uma criança Autista é uma mistura de sentimentos: um amor e um medo gigante, uma sensação de impotência, mas ao mesmo tempo uma coragem enorme de protegê-lo e oferecer caminhos para o seu desenvolvimento cognitivo e sensorial. O papel da mulher em qualquer época, vai de encontro naquilo que lhe foi proposto pelo contexto do cotidiano”.
“Ser mulher na atualidade significa ser protagonista, enfrentando desafios, lutas e buscando conquistas diárias, é lidar com a multiplicidade dos papéis e funções que socialmente assumimos, é trilhar caminhos em prol da igualdade de gênero, na compreensão da subjetividade e da sexualidade. É preciso conhecer os diversos marcadores sociais que nos constituem e nas nossas narrativas buscando ocupar espaços de representação social e política”, relatou Fernanda Nasciutti, Educadora Física, Gerontóloga, Mestre em Educação, MBA em Gestão Empresarial, Sócia proprietária da Estância do Guardião – ecoturismo.
“Ser mulher em pleno 2022 é ser reinventar todos dias a cada batalha; é não se abater diante de intimidação sendo a pessoa mais capacitada sobre o assunto e a última a ser ouvida; é ser questionada quando chorar ou ficar nervosa se é TPM; é evitar uma rua escura mas sempre com o desejo de voar cada vez mais longe; é sentir abençoada pela capacidade de gerar uma criança mais oprimida por decidir não optar pela maternidade como se o simples fato de ser mulher só será completa se gerar uma criança, enfim é uma luta diária contra as desigualdades impostas só por sermos mulheres…”, nos contou a Lissandra Lemos Teixeira, contadora, bacharel em direito, filha e irmã.
“Já estamos em 2022 e apesar de tantos avanços em diversas áreas… ainda lutamos diariamente por um simples andar na rua sem ser incomodadas (de ter inúmeras outras coisas). É dia de celebrar os seres que geram o mundo, mas também dia de alertar sobre os problemas de gênero que persistem até os dias de hoje. Espaço para destacar conquistas sociais, políticas e econômicas que temos alcançado, graças à união e ao feminismo. E pra você mulher que tá pensando agora com desenho sobre o feminismo, você sabe ler graças ao feminismo. Estudou graças a ele. E pode trabalhar e ter seu dinheiro também graças ao feminismo. Desejo paz à todas nós. Somos força, garra e luta. Somos graça. Ontem, hoje e sempre. Sigamos juntas”, relatou Nádia Dalla Vecchia, administradora por formação e há seis anos ajudando a emproar as mulheres pelas cores e traços de suas tatuagens.
A Naessa Marques, mulher trans, cantora e cineasta nos relatou: “O que entendemos de mulheridade? Para além de órgãos sexuais e reprodutivos e cuidados parentais? Como a mulheridade sobrevive numa sociedade patriarcal, falocêntrica, machista e misógina? Como diz Maria Homem, psicanalista e produtora de conteúdos midiáticos sobre psicanálise, tudo parece muito bem tramado. Nas relações afetivas, nos papéis de gênero, na cultura, nos hormônios. Sou menos mulher por ser uma mulher trans? A mulher cis (cis são mulheres que foram registradas no sexo feminino e se reconheceram como mulheres quando adultas) que abortou é menos humana do que a maternal? A mulher cis/trans lésbica ou bi é menos potente que a mulher cis/trans hétero? A mulher cis/trans gorda acessa o afeto? O que a mulher cis/trans preta encontra na sociedade? Como a mulher cis/trans na terceira idade desenvolve suas relações? Minha provocação sobre a realidade que enfrentamos, com nossas particularidades, é sempre por perceber esse ponto de vista servil e os privilégios sociais que oprimem a vida de mulheres (branquitude, juventude, cisgeneridade, “padrões” de beleza, hétero normatividade, dentre outros). A elaboração de nossa consciência enquanto individuas pensantes é para desconstruirmos correntes que despertem gatilhos auto destrutivos. A liberdade de expressão na construção de nossas identidades é um direito da nossa humanidade. Que neste dia possamos empoderar a sororidade e a nós mesmas. Um feliz dia pra gente!”.
“Ser mulher é um desafio bem maior do que se imagina, enfrentar as batalhas do dia a dia dentro e fora de casa, trabalhar para sustentar um lar. Ser pai e mãe é bem complicado, porém, não deixa de ser gratificante, ver as conquistas de um filho e saber que você conseguiu sozinha é um orgulho que me faz chorar de alegria e repetir para mim mesma e para todos, que eu consegui! Ser mulher, mãe solo, trabalhar fora, ser dona da minha vida, é uma vitória maravilhosa… Sou grata a Deus e sou muito feliz com essa missão”, nos contou Viviane Vieira dos Santos, auxiliar administrativa e mãe do Luiz Eduardo.
E assim, com tantos relatos, reflexões e frases para continuarmos a pensar, cada vez mais no que é ser mulher em 2022, que o Regionalzão homenageia todas a mulheres”