O Senado concedeu nesta terça-feira (28) a Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo a quatro pessoas e uma instituição com contribuição relevante ao registro e ao fortalecimento da cultura, do folclore e dos saberes tradicionais no Brasil. A homenagem ocorreu em sessão de premiação e condecoração no Plenário da Casa.
A comenda foi entregue aos seguintes agraciados:
• Flávio Capitulino, restaurador;
• Milton Nascimento, cantor e compositor;
• Pedro Machado Mastrobuono, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram);
• Yara Tupynambá, artista plástica e professora; e
• Instituto Inhotim.
Esta é a segunda edição de entrega da comenda, criada pelo Senado em 2018. O presidente da Casa, senador Rodrigo Pacheco, disse que a entrega “tem um brilho especial”. Ele lembrou que, nos últimos dois anos, o Senado demonstrou “uma luta muito árdua em defesa da cultura brasileira” com a aprovação de matérias que resultaram nas leis Aldir Blanc (Lei 14.017, de 2020) e Paulo Gustavo (Lei Complementar 195, de 2022).
— Somos entusiastas não só da cultura erudita, que se aprende nos livros e nos bancos escolares. Mas da cultura popular, que é a expressão mais espontânea do imaginário do nosso povo: a manifestação de uma cultura viva que acontece nas ruas, nos bairros, nas cidades do Brasil. Creio que esta Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo se reveste de importância enorme, até difícil de aquilatar. Estamos homenageando e valorizando a alma do povo brasileiro em todo seu vigor, beleza e pluralidade — disse Rodrigo Pacheco.
Para a senadora Daniela Ribeiro (PSB-PB), a homenagem é um reconhecimento do Senado à produção e à preservação da cultura.
— Nossas manifestações culturais perpetuam nossa história, são obra de um povo que cria, recria e perpetua suas crenças, sua arte, seus valores, e daqueles que valorizam, preservam e disseminam esses bens — afirmou.
O senador Chico Rodrigues (PSB-RR) disse que a comenda entregue aos cinco homenageados se estende a todos os artistas brasileiros.
— Recebem esta Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo todos os cantadores e repentistas do Brasil, todas as lavadeiras que embalam a dura lida com seus cantos de trabalho e todos os xilogravuristas que tornam o cordel brasileiro uma arte tão valiosa para a construção da nossa identidade cultural. Todos os grupos de bumba-meu-boi, todos os maracatus, caboclinhos, reisados e todo o dicionário do folclore brasileiro, com cada um dos seus verbetes escritos e tatuados na nossa memória — sublinhou.
Para a senadora Zenaide Maia (PSD-RN), a comenda que leva o nome de Câmara Cascudo “é uma homenagem de se tirar o chapéu”.
— A cultura é a digital de um povo. Sem a cultura, como vamos saber de onde viemos, onde estamos e a`onde queremos chegar? Parabenizo cada um dos homenageados, que têm esse olhar diferenciado para preservar a história do nosso povo, que é riquíssima e diferenciada — afirmou.
O senador Fabiano Contarato (PT-ES) declamou da tribuna um trecho do poema “Cântico Negro”, de José Régio. O parlamentar salientou a importância que a cultura deve receber do poder público.
— Querem ver como um governo quer bem a sua população? Olha como ele trata da cultura. Quando falo de cultura, falo de vida. A cultura tem vez e voz. A cultura voltou. Nós estamos agora em um momento de valorização daquilo que reputo que seja fundamental — opinou.
A coordenadora do Museu do Senado, Maria Cristina Monteiro, disse que o Brasil experimenta um momento de reencontro com a cultura, após um período de desvalorização da arte. Ela lembrou dos atos de vandalismo do dia 8 de janeiro, que resultaram na destruição de obras de arte na Praça dos Três Poderes, inclusive no Senado.
— A comenda marca a volta da valorização da cultura. A gente passou um tempo sem conseguir essa expressão cultural. E teve um tempo de desvalorização que chegou ao auge no dia 8 de janeiro, quando as pessoas se manifestaram sem entender — ou talvez por pura ignorância mesmo — o que é uma obra de arte e o que ela representa — afirmou.
Homenageados
O restaurador Flávio Capitulino nasceu em Sousa (PB) e mudou-se para Paris aos 17 anos. Profissional de renome internacional, trabalhou em obras de Renoir, Matisse, Van Gogh, Salvador Dalí, Claude Monet, Chagal, Pablo Picasso e Leonardo da Vinci.
— Sair do alto sertão da Paraíba, filho de agricultor e estar aqui recebendo esta comenda é uma prova de que não importa sua posição geográfica, sua cor ou seu gênero. Sonhar nunca foi e nunca será uma loucura ou limitação. O limite é a capacidade de cada um. Sempre acreditei e acredito em mim e nos meus sonhos. Estar aqui nesta tribuna e ter o reconhecimento que para mim é a maior das medalhas é a prova de que todo o meu esforço não foi em vão — disse o homenageado.
O ex-presidente do Ibram Pedro Machado Mastrobuono é advogado com atuação na área de direitos autorais. Graduou-se em história da arte e literatura italiana pelo Instituto Italiano de Cultura e é doutor honoris causa em cultura e proteção ao patrimônio histórico e cultural pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UMFS).
— Essa iniciativa do Senado reforça minha crença pessoal de que dedicar minha vida à cultura é investir na memória e no legado do povo brasileiro. A história cultural brasileira é plural, diversa e rica porque nosso povo é resiliente e apaixonado. Somos unidos pela brasilidade, nossa identidade maior. Razão pela qual entendo a cultura como assunto de Estado, e não de governo — afirmou.
A artista plástica Yara Tupynambá nasceu em Montes Claros (MG) e é professora titular da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Participou de mostras e realizou exposições individuais em galerias no Brasil e no exterior em cidades como Paris, Nova Iorque e Londres. Tem 105 painéis espalhados pelo Brasil e sete murais tombados pelo Patrimônio Histórico e Artístico de Belo Horizonte.
— Esse prêmio toca meu coração. Significa de certa forma o apreço que o poder público tem, através do Senado, pelos artistas brasileiros. Para mim, a premiação significa toda uma corrente de artistas que têm lutado para que a arte mineira seja implantada e ao mesmo tempo reconhecida pelo público, tanto mineiro quanto nacional. Esta é missão do artista: chegar até onde o povo está — disse em vídeo apresentado na homenagem.
O diretor-presidente do Instituto Inhotim, Lucas Pessoa, recebeu a comenda do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Criado em 2006 em Brumadinho (MG), o museu de arte contemporânea é um dos maiores a céu aberto do mundo e recebeu mais de 4 milhões de visitantes nos últimos 16 anos.
— O museu tem a mais importante coleção de arte contemporânea do Hemisfério Sul e a única coleção arte contemporânea internacional em exposição permanente no Brasil. Inhotim tem a textura de um sonho e proporciona uma nova forma de experienciar nosso corpo no mundo. É um lugar que permite que artistas coreografem o não visível, formulem não acontecimentos e ecoem o indizível — disse Lucas Pessoa.
O cantor e compositor Milton Nascimento não pode comparecer à cerimônia e deve receber a Comenda de Incentivo à Cultura Luís da Câmara Cascudo em casa. Aos 80 anos de idade e com 60 anos de carreira, ele é um dos mais influentes artistas brasileiros no país e no exterior.
Quem foi Câmara Cascudo
Luís da Câmara Cascudo nasceu em Natal (RN) em 1898 e morreu na capital potiguar em 30 de julho de 1986, aos 87 anos. Atuou como historiador, sociólogo, musicólogo, antropólogo, folclorista, poeta, cronista, professor, advogado e jornalista. Deixou uma obra relevante nas áreas de história, folclore e cultura popular. Em 1965, recebeu o Prêmio Machado de Assis pela Academia Brasileira de Letras pelo conjunto da obra.