Skatistas se reuniram nesta segunda-feira (8/5/23), em audiência pública da Comissão de Cultura da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), para protestar contra a demolição do Galpão Skate Udi em Uberlândia (Triângulo Mineiro), pista referência no País, e cobrar a construção de novos espaços para a prática do esporte no Estado.
No último dia 1º de abril, a pista foi demolida após a concessão de uma liminar de reintegração de posse. A estrutura ficava em um galpão abandonado há 30 anos, que, por iniciativa dos próprios skatistas, foi sendo ajustado ao esporte, com a construção de rampas e obstáculos.
Por cerca de 20 anos, o espaço se tornou ponto de encontro e de treino, reunindo também grafiteiros e dançarinos de hip hop, entre outras diferentes expressões culturais.
A deputada Bella Gonçalves (Psol), que solicitou a audiência, e os demais presentes contestaram não só a decisão judicial, que ignorou a comprovada ocupação do local pela comunidade do skate, como a forma com que se deu a desocupação, de forma truculenta.
A parlamentar, que acompanhou a ação in loco, também ponderou que a decisão pela reintegração não envolvia a destruição do patrimônio nem fazia menção ao despejo de uma família que vivia no galpão.
“A demolição mostra o descaso do poder público com o cenário do skate, importante para a cultura e o esporte de Minas e do Brasil. A ausência de espaços adequados para a prática é uma realidade na maioria das cidades do País”, afirmou.
Ocupação popular
Gustavo Henrique Ribeiro, presidente da associação criada para representar os skatistas que frequentavam o local, destacou que o galpão era fruto de uma ocupação popular da juventude, que desencadeou uma cena cultural e esportiva abrangente.
No final de 2021, o Galpão Skate Udi foi premiado pela Confederação Brasileira de Skate como a melhor pista autoconstruída do País.
No entanto, desde que a associação ajuizou uma ação em busca da posse do terreno, frequentar o local passou a ser algo perigoso. Gustavo Henrique denunciou que durante um mês eles foram vítimas de ameaças e de ações violentas.
Um skatista chegou a ser agredido por um segurança, três bombas explodiram no galpão e barracas de pessoas que ocupavam o espaço para que ele não fosse demolido foram queimadas.
Seguranças armados eram vistos circulando no local e um contêiner chegou a ser colocado na sua entrada para impedir a entrada das pessoas.
Diretor financeiro da Confederação Brasileira de Skate, Maurício Massote classificou a desocupação como inaceitável. Ele informou que a instituição publicou uma nota de repúdio e pediu explicações, por meio de ofícios.
O dirigente também aproveitou para pedir apoio ao esporte. A confederação hoje se sustenta com patrocínios privados e repasses do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) destinados apenas ao skate profissional.
Luiz Gustavo Silva, da Confederação Mineira, relatou que este ano não houve o repasse de nenhuma verba federal para execução dos seus campeonatos.
Santa Luzia passou por situação semelhante
Sobre a situação específica de Uberlândia, o representante da Confederação Mineira de Skate lembrou o que vivenciou em sua cidade, Santa Luzia (RMBH), para que sirva de exemplo do que não deve ser feito na busca por uma nova pista.
Lá, informou, foram feitas duas licitações para a construção de uma ampla pista de esportes radicais, que tiveram como vencedoras duas empresas sem afinidade com o esporte: uma abandonou a obra e a outra entregou um equipamento completamente inadequado, que não permite nem mesmo a disputa de campeonatos importantes no local. “Um ano e três meses depois, ainda não tem iluminação e a pista já precisa de manutenção”, disse.
Segundo o vereador de Uberlândia Igino Oliveira, a comunidade jovem do skate já identificou outra área no município, de posse da União, com 80 mil m2, no setor industrial, que pode ser transformada em um possível centro de esporte, com a sua transferência para a prefeitura.
Para a vereadora Amanda Ferreira, a experiência do Galpão Skate Udi mostrou a necessidade de construção de espaços pelo poder público para a juventude se expressar, valorizando também o skate enquanto esporte.
Já a deputada federal Dandara Tonantzin (PT-MG) questionou a lógica que historicamente vem guiando as administrações de Uberlândia, que, no seu entender, não viabiliza as culturas populares, periféricas, as demandas reais do povo. “São poucas as pistas de skate e não atendem a demanda”, pontuou.
Relevante interesse cultural
Ao final da reunião, a deputada Bella Gonçalves apresentou requerimentos dando encaminhamento às questões discutidas na audiência e protocolou, em companhia dos representantes do esporte presentes, projeto que reconhece a tradição skatista em Uberlândia como de relevante interesse cultural no Estado.
Vai caçar serviço cambada. Vereador trabalha e para o povo,não para classe.