Produtores rurais de regiões como o Triângulo Mineiro voltaram a expressar preocupação com os impactos da proliferação de javalis em propriedades e lavouras durante audiência pública conjunta realizada nesta quinta-feira (10/4), na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Os animais, que chegam a pesar 300 quilos e percorrem até 300 quilômetros por dia, têm gerado prejuízos econômicos e ambientais em diversas áreas do estado.
A reunião foi proposta pelo deputado Leonídio Bouças (PSDB) e ocorreu nas Comissões de Desenvolvimento Econômico, Agropecuária e Meio Ambiente. Um dos principais pontos debatidos foi a necessidade de uma legislação estadual para o controle da espécie, considerada invasora e sem predadores naturais no Brasil.
Em tramitação na ALMG, o Projeto de Lei 1.858/23 propõe o manejo sustentável do javali-europeu em todo o estado. A proposta é de autoria conjunta dos deputados Dr. Maurício (Novo), Raul Belém (Cidadania) e Marli Ribeiro (PL), e aguarda parecer da Comissão de Meio Ambiente.
Durante a audiência, o pesquisador Paulo Bezerra e Silva Neto, da Escola Superior de Agricultura da USP (Esalq), alertou para o avanço dos javalis em áreas de preservação e destacou a omissão do poder público no enfrentamento da questão. Ele defendeu a participação de caçadores habilitados no controle populacional da espécie, apontando o alto poder destrutivo dos animais e sua rápida capacidade de reprodução.
Presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Sacramento, Osny Zago apresentou registros dos estragos causados pelos javalis nas lavouras e até mesmo em mananciais da região. Segundo ele, 40% dos produtores de Sacramento já abandonaram atividades agrícolas por causa dos prejuízos. Além disso, destacou os riscos sanitários representados pelos animais, que podem transmitir doenças como febre maculosa, raiva e febre aftosa.
A atuação de órgãos ambientais também foi debatida. Representante do Ibama, Júnio Augusto dos Santos Silva reafirmou que o controle da espécie deve seguir normas da Convenção da Diversidade Biológica e ocorrer sem transformar os javalis em “troféus de caça”. Já representantes de associações de caçadores defenderam a regulamentação da prática como alternativa eficaz e disseram que o produtor rural tem arcado sozinho com os custos do controle.
Autoridades do setor agropecuário, como representantes do Ministério da Agricultura e da Faemg, reforçaram a necessidade de um plano técnico e estadual para contenção dos javalis, de forma a preservar a produção e a segurança no campo.
O deputado Leonídio Bouças ressaltou que a situação exige uma solução urgente e técnica. “A intenção é pacificar o debate e encontrar um caminho eficaz para o controle dessa espécie que hoje compromete a produção, o meio ambiente e a saúde pública”, afirmou. O deputado Raul Belém também defendeu a criação de uma política de Estado para o enfrentamento do problema, destacando que a caça é apenas uma das ferramentas possíveis no processo.