O que era bastidor virou confronto institucional. O ex-procurador da Lava Jato e ex-deputado federal Deltan Dallagnol (Novo-PR) entrou com uma representação na Procuradoria-Geral da República pedindo o cancelamento do acordo de não persecução penal (ANPP) firmado com o deputado André Janones (Avante-MG). A alegação: Janones descumpriu o acordo ao negar o crime publicamente, mesmo após aceitar ressarcir R$ 131,5 mil aos cofres públicos.
O documento, já homologado pelo ministro Luiz Fux, previa a confissão do deputado e a devolução dos valores recebidos indevidamente por meio da prática de rachadinha — repasse de parte do salário dos assessores. O acordo também previa multa de R$ 26,3 mil. Janones, no entanto, publicou um vídeo dizendo que “não confessou nenhum crime”, desafiando a interpretação jurídica da própria PGR.
“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (João 8:32) pic.twitter.com/OGB42rNaGx
— André Janones (@AndreJanonesMG) March 20, 2025
Para Deltan, que já perdeu o mandato justamente por decisão do TSE baseada em irregularidades formais, o recado de Janones às redes foi “uma mentira à PGR” e quebra direta das condições do acordo. “Está-se adiante da quebra do acordo, eis que o requerido teria mentido para a PGR”, escreveu Deltan.
No meio do vendaval, a gravação feita em 2019 volta a pesar. Nela, Janones aparece pedindo parte dos salários dos servidores de seu gabinete para cobrir dívidas da campanha à Prefeitura de Ituiutaba (MG), alegando ter tido seu patrimônio “dilapidado”. O áudio foi revelado pela coluna de Paulo Cappelli em novembro de 2023.
Nos bastidores do Avante, o acordo havia sido visto como uma forma de “encerrar o assunto com o menor desgaste possível”, mas o vídeo de Janones fez tudo explodir de novo.
A Coluna Poder segue acompanhando os bastidores dessa queda de braço que mistura vaidade, populismo digital e o velho manual da sobrevivência política.