Ensaiando abandonar a candidatura à reeleição, o presidente Michel Temer quer fazer tudo de maneira discreta, sem perder o poder de barganha. Negociações dentro do MDB aumentam a pressão para que Temer passe a vaga para o ex-ministro de Fazenda Henrique Meirelles, que, nem assim, está garantido na corrida ao Planalto. O presidente nacional da legenda, senador Romero Jucá (RR), defende até a possibilidade de eles não concorrerem. Jucá garante que nenhuma mudança extrema ocorrerá antes de as diretrizes de financiamento das eleições serem definidas internamente.
Aliados dizem que Temer se convenceu de que a rejeição será muito elevada caso ele resolva ir às urnas. Ainda assim, o presidente não pretende jogar a toalha por agora. Vai esperar até o fim de junho para fazer o anúncio. Até lá, a ideia é cacifar a legenda e vender o capital político para outro candidato de centro. O PSDB acompanha atentamente as movimentações, e, embora já tenha demonstrado interesse nesta coalizão, não deverá ter o apoio sem abrir concessões.
“Ele está onde sempre esteve, observando tudo e aguardando a hora certa para agir. O tempo todo, o presidente é o último que precisa decidir sobre candidatura. Nesse momento, o importante é ter o apoio dos outros partidos, como DEM, PP, PR, PRB, PTB”, explica um interlocutor de Temer. A união das legendas criaria uma espécie de força-tarefa para fortalecer a provável candidatura de Meirelles.
Bancada
Em entrevista ao Correio, Romero Jucá disse que “abrir mão da candidatura própria está na mesa”. O senador garante que a maioria do partido está unida e aguarda uma posição, mas que o MDB pretende aumentar a bancada no Congresso. “Isso é uma prioridade. Nossa meta é eleger de 14 a 15 governadores, 60 deputados federais e 18 senadores”, detalhou. No Distrito Federal, o partido deixou o diretório livre para fazer aliança para a candidatura local e já sinaliza uma aliança para apoiar o pré-candidato Jofran Frejat (PR).
Para assessores próximos, as alegações de Jucá se confirmam pela mudança de comportamento de Michel Temer, que, agora, faz questão de levar Meirelles nos eventos. A dúvida que paira sobre o Planalto é como conseguir desvincular Temer da reeleição sem que ele perca o poder para negociar. Uma das respostas é uníssona entre os aliados: “Deixar a candidatura guardada em uma gaveta”.
Utilizar a máquina pública para fortalecer o nome de Meirelles sem desvalorizar Temer está entre os planos das próximas semanas. A ideia é colocar o ex-ministro nos palanques em que o presidente estiver, como em inaugurações de obras, eventos governamentais e partidários. O presidente poderá até passar para o ex-ministro da Fazenda a incumbência de fazer os discursos.
Entre o que já foi implementado no projeto para bombar Meirelles está o uso das redes sociais, algo que o ex-ministro nunca teve interesse em aprender. Uma equipe foi contratada para treinar o economista, que agora faz vídeos em tempo real, grava mensagens motivacionais, repercute as entrevistas que dá e tenta fortalecer o bordão “Chama o Meirelles” — sugerindo estar à disposição para resolver os problemas do país.
Ciente dos problemas internos da candidatura governista, o PSDB é cuidadoso ao colocar seus pares na campanha de Alckmin. O líder dos tucanos na Câmara, Nilson Leitão (MT), acredita que “o PSDB não quer brigar”, e diz que o caminho para o entendimento partirá dos palanques regionais. “Em Mato Grosso, estamos fechados com o MDB. Mas não dá para resolver tudo de uma vez.”
Jogo de DEM e PSDB
Embora o MDB sinalize a possibilidade de uma aliança com os tucanos, ainda resiste ao embarque oficial no PSDB. Uma das legendas cogitadas para preencher esta lacuna é o DEM, que também tem disposição para negociar e não planeja ceder tão fácil. O partido está decidido a emplacar a pré-candidatura de Rodrigo Maia (RJ), presidente da Câmara dos Deputados, e angariar apoio de outras legendas de centro.
A resistência do DEM se ancora no poder de articulação de Maia dentro do Congresso. O deputado federal Efraim Filho (PB), vice-líder do partido na Câmara, acredita que Maia detém as qualidades necessárias de diálogo com a esquerda e a direita. Algo que, para ele, credencia o presidenciável da legenda acima de outras pré-candidaturas. “Precisamos de alguém que dialogue com ambos os lados para unir o país”, ponderou.
O poder de articulação de Maia à frente da Presidência na Câmara mostra, no entendimento de Efraim, que o presidenciável pode estancar a intolerância no país, estimulada pelos extremos da esquerda e da direita. “Temos um conceito e vamos aguardar para ver o desempenho de Rodrigo. Ele tem a linha de capacidade de diálogo, equilíbrio e serenidade na tomada de decisões que o país precisa”, analisou.
As pesquisas eleitorais que apontam Maia com 1% de intenção de voto não terão influência, na avaliação do DEM. Para Efraim, as análises são apenas um retrato do momento. “Temos um conceito. Em junho ou julho, teremos alguma decisão. Quem souber se adaptar levará vantagem”, destacou.
Alckmin defende restrição do foro
O pré-candidato à Presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, alegou não se preocupar com o inquérito que o investiga por improbidade administrativa nas relações com a Odebrecht. Além disso, o tucano defendeu a restrição do foro privilegiado para crimes relacionados ao mandato de todos os cargos públicos. O procurador-geral de Justiça de São Paulo, Gianpaolo Smanio, solicitou à Promotoria do Patrimônio Público e Social o inquérito que investiga o ex-governador por suspeita de improbidade administrativa nos casos de suposto pagamento ilícito delatado pela Odebrecht e que envolveriam obras públicas nas gestões do tucano. Smanio requisitou o caso para “avaliar e decidir sobre a atribuição de atuação” e ainda não enviou o inquérito para outra área do Ministério Público.
O papel do PSB
Com a indecisão nas chapas nacionais, os caciques de São Paulo querem negociar o apoio na corrida pelo governo. O PSB, que ficou sem nada com a saída do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, busca alianças. Mesmo se os socialistas embarcarem na pré-candidatura de Ciro Gomes (PDT), o PSDB, de Geraldo Alckmin, terá o ex-governador no palanque de Márcio França (PSB), governador de São Paulo, e de João Doria (PSDB), ex-prefeito da capital paulista.
O risco é o PSDB perder o apoio dos nanicos, ainda que uma chapa entre os grandes pareça uma boa ideia. O professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP) Alcydes Miranda lembrou o discurso de Doria, que, na última quarta, disse que não haverá constrangimento caso Alckmin endosse a campanha do adversário. “É uma situação bem resolvida internamente. O que não pode acontecer é uma mudança repentina”, explica o cientista político.
A desistência de Barbosa, no entanto, não afetará o apoio de Alckmin a França. Tucanos entendem que, mesmo quando o ministro aposentado do Supremo ainda era cogitado como pré-candidato do PSB, Márcio França manteve fidelidade a Alckmin. “Não será agora que vai mudar. Até facilita ainda mais o diálogo dele com o PSB”, ponderou um líder tucano.
Entre os partidos com pré-candidatos ao Palácio do Planalto, o PDT é o que tem mais contato com o PSB nos estados. Com 11 pré-candidatos a governador, a legenda não terá aliança com o PSDB em nenhum estado e deve ser apoiado pelo PT na Paraíba e em Tocantins. Já o PDT pode firmar chapas com o PSB em até oito estados.
Fonte: Estado de Minas