Adriano estava no banco naquele dia. Era sua primeira competição para valer, depois de um começo improvisado na quadra torta e com a rede desalinhada em seu colégio, em Ituiutaba, no Triângulo Mineiro. Aos 14 anos, implorava para ir ao jogo, mas tinha um problema: o braço quebrado.
– Eram os Jogos Estudantis de Ituiutaba (JEI). Eu estava com o braço quebrado, minha mãe na arquibancada e eu implorava para o técnico: “Deixa eu jogar, deixa eu jogar”. E eu no banco. O árbitro disse que não podia me deixar jogar, mas o técnico disse que minha mãe estava ali. Minha mãe é conhecida na cidade, se chama Adriana. Olhou para mim e perguntou se eu queria jogar. Falei que sim. Um menino com o braço esquerdo quebrado dentro da quadra e a gente ganha o jogo, a maior vitória. Todo mundo alegre, criança, gritando e comemorando. Nunca vou esquecer esse dia.
O Itapetininga começa a série contra o Minas nesta quarta-feira, às 16h30, no Centro de Desenvolvimento do Vôlei, em Saquarema.
Ao falar assim, parece um passado distante, mas são apenas cinco anos para trás. Adriano, hoje com 19, carrega as lembranças vivas daquele dia sempre que entra em quadra. O menino de Ituiutaba se transformou na maior revelação da temporada na Superliga. Nas quartas de final, ignorou qualquer previsão ao derrubar o todo-poderoso Cruzeiro e levar o Itapetininga à primeira semifinal de sua história.
Adriano foi descoberto em competições no Triângulo Mineiro até chegar à peneira da CBV, à procura de jovens talentos pelo país, em 2017. Foi parar no Canoas, onde fez uma boa Superliga B, até voltar à seleção sub-19 e chamar a atenção do Itapetininga. Mas sem deixar de lembrar da quadra improvisada em Ituiutaba.
– Eu estudei na escola João Pinheiro, em Ituiutaba mesmo. Sempre joguei tudo. Quando fui para lá, perguntei a um professor se tinha um time de vôlei. Ele disse que não, mas que, se eu quisesse, conseguia alguns meninos para jogar. É um colégio público, a quadra é minúscula, de cimento, toda, toda torta. Um lado da rede ficava a três metros de altura, o outro a dois. É sério, pode perguntar para qualquer pessoa.
A ascensão meteórica não assusta Adriano. Durante a Superliga, mostrou personalidade pouco comum para quem está começando. Chama atenção pela força no ataque, pelo bom passe e pela altura.
– Eu tenho 2,00m. Disseram que eu tenho 1,97m, mas são 2,00m. Estão me tirando três centímetros – brinca, antes de falar sério.
– Eu comecei agora, estou começando cedo e acho que já estar na Superliga é, como eu posso dizer, a concretização de um sonho e a confirmação de que eu estou no caminho certo. Acho que agora é só trabalhar para mais coisas acontecerem. Essa classificação contra o Cruzeiro, além de histórica, como o Brasil todo diz, acho que é uma gratificação. Muito especial, acho que eu sempre vou lembrar disso, independente do que acontecer na minha carreira. Vai ficar marcado.
Durante as partidas contra o Cruzeiro, Adriano foi muito elogiado por um de seus maiores ídolos. Nas transmissões do SporTV, Nalbert elogiou o potencial do ponteiro por diversas vezes. E, principalmente, a frieza do garoto em momentos tensos dos jogos.
– É, todo mundo, todo mundo que vem conversando comigo fala dos elogios do Nalbert. Um menino de dezenove anos, de um moleque que joga como adulto, que tem frieza. Eu só agradeço, espero evoluir mais e mais. Nos primeiros jogos, eu ficava muito nervoso, muito ansioso, querendo fazer tudo certo. E é normal ter essa ansiedade nos primeiros jogos. E eu acho que eu fui me acostumando com isso.
Mas não duvide que Adriano quer mais. Ao derrubar um gigante, um sonho que parecia ainda mais distante se tornou algo tangível.
– O time tem potencial (para vencer o Minas, chegar à final e brigar pelo título). Eu vou usar as palavras de algumas pessoas. Depois que a gente fez o quase impossível, tudo é possível. Tudo é possível. Tá ligado?
Fonte: Globoesporte.com